Agenor Evangelista é um nome conhecido entre as ruas e paisagens de Londrina. Com uma vida intrinsecamente ligada à arte, ele transpõe em suas obras as memórias visuais e afetivas da cidade, consolidando uma trajetória marcada pela dedicação e por uma visão única do universo londrinense, além de seu envolvimento de décadas com a arte preta.
Evangelista é uma das personalidades que integram a série Biografias Audiovisuais, produzida pela Museu de Arte de Londrina e Secretaria Municipal de Cultura (SMC). A iniciativa é composta por entrevistas em vídeo com importantes artistas de Londrina, cujos trabalhos fazem parte do acervo do museu.
Trajetória – Natural de Londrina, o artista plástico nasceu em 1954, na Vila Portuguesa, e logo descobriu o pincel e a tinta. “Eu sempre desenhei desde pequeno, e quem me deu a força para começar a pintar foi a minha professora do primário e também meu pai”, contou.
Aos 17 anos, conseguiu seu primeiro emprego como entregador de telegramas. “Só aí que pude ter condição de comprar material, tinta, pincéis e livros de arte”, afirmou.
Entre os 10 e 27 anos, Evangelista produziu majoritariamente desenhos monocromáticos. Já no começo dos anos 70, decidiu dedicar sua vida unicamente à arte. “Eu sempre estive realmente envolvido com desenho e com pintura. Depois de 1973 que eu decidi só viver da arte, só mexer com pintura, não fazer outra coisa que não estivesse interligada com a arte. Eu enveredei para o cenário de teatro, decoração de festas infantis, decoração de carnaval. Para mim, sempre foi uma coisa suave estar nesse mundo”.
Durante esse período, o artista resolveu não fazer sua educação artística dentro da academia. Ele tinha um sonho desde pequeno: cursar arquitetura. “Eu era muito ligado ao urbano e à cidade. Foi ali que realmente comecei a ter contato com o mundo da arte”, contou.
Evangelista foi aluno da quinta turma de arquitetura da Universidade Estadual de Londrina. “Acabei largando quando já estava fazia seis anos frequentando a UEL, era mais um funcionário do campus do que aluno da Universidade”, frisou.
Mostra Afro – Durante o período da graduação, Evangelista se envolveu cada vez mais na arte engajada. Em 1984, junto com colegas, passou a se reunir em um espaço na rua Pernambuco e discutir assuntos relativos à população negra. Dessas conversas, surgiu a ideia de montar um bar de resistência: o Zumbi Bar. “Eu saía da faculdade e ia para o Zumbi Bar, um local de resistência, e ali nossa união começou a crescer de tal forma que decidimos criar um movimento”, relembrou.
Assim surgiu o Grupo de União e Consciência Negra, que posteriormente se tornou Mucon – Movimento de União e Consciência Negra.
Ocupando a posição de diretor cultural do movimento, Evangelista foi um dos organizadores da primeira mostra de arte afro de Londrina, a Mostra Zumbi dos Palmares. Na época, entre 1984 e 1985, defendeu a ideia de que o movimento enfocasse a temática afro, mas também abrisse espaço para artistas de outras etnias. “A partir do momento que a pessoa vai participar de uma Mostra Afro, isso significa que ela vai pesquisar e estudar sobre o negro”, salientou.
Inspirado na cidade de Meca, sagrada para o islamismo, o pintor criou seu próprio movimento. “Eu disse: ‘amanhã venho com um movimento que vai botar o dedo na ferida da discriminação, do preconceito e do racismo através da cultura’”, afirmou.
Pensando nisso, criou o Movimento de Estudo e Cultura Afro-Brasileira – Mecab. As mostras promovidas pelo Mecab abriram portas para diversos artistas pretos como Bhal Marcos, José Maria Frutuoso, Ariel Freire e Katia Borges, dentre inúmeros outros.
Arte na veia – Em sua jornada de mais de cinco décadas pela arte, Agenor Evangelista cultivou um estilo inconfundível. Suas obras são uma mistura de cor e boemia que refletem exatamente o autor. A obra Cenas Urbanas I, doada ao Museu de Arte de Londrina em 1989, é um dos trabalhos que representa toda a atitude do pintor.
“Sempre gostei de pintar com aquarela. Eu tinha sido premiado em São Paulo em 1987 com medalha de ouro, e no mesmo ano peguei o primeiro lugar no salão de Maringá, o quarto Salão da Paisagem. As Cenas Urbanas, tanto a I quanto a II, foram compradas pelo então prefeito Antonio Belinati, o ‘Tio Bila’, que posteriormente as doou para o Museu”, conta.
Os trabalhos de Evangelista, que transitam entre o abstrato e o figurativo, destacam-se pelo uso intenso das cores e pela capacidade de transformar detalhes do cotidiano urbano em composições dinâmicas e repletas de energia. “Sempre fui focado no Di Cavalcanti, por causa da boemia, por ser um dos pouquíssimos pintores latino-americanos que pintou a essência da africanidade, e pelo seu lado bon vivant e apaixonado pelas mulheres”, apontou.
Agenor Evangelista destaca que, como o seu meio é a periferia e a negritude, a maioria dos seus trabalhos são voltados à temática afro. “Eu bebi da fonte do Di Cavalcanti, pelo expressionismo, pela cor do mulato, do negro, do africano”, ressalta.
Texto: Maria Dalben, sob supervisão dos jornalistas do Núcleo de Comunicação (N.Com) da Prefeitura de Londrina.
Fonte: Prefeitura de Londrina – Arquivo O Maringá